segunda-feira, 10 de junho de 2013

CÉU, INFERNO E PURGATÓRIO


         Na homilia de domingo, padre Bruno salientou a intercessão em suas palavras.
Devemos interceder uns pelos outros, faz parte da comunhão cristã, da vida em comunidade, da vontade de Deus. E neste pensamento surgiram em suas palavras as realidades eternas do céu, do inferno e do purgatório, realidades que nos causam ora medo, ora a alegria da possibilidade da visão de Deus. É justamente sobre isto que gostaria de falar aqui no blog para ajudar muitos irmãos e irmãs, tentando esclarecer dúvidas, temores.

Do céu e do inferno, embora haja dúvidas, temos uma compreensão mais tranquila. Para céu, estamos nos referindo à amizade eterna com Deus, ao reino dos céus, ao reino de Deus, paraíso, visão de Deus, participar da vida plena que o próprio Pai do Céu nos dá pelo seu Filho ressuscitado. Para inferno, é a existência na  contradição, morte eterna, a negação da comunhão com Deus, a ausência da comunhão com o Pai, a imagem invertida da glória, o supremo sofrimento pela ausência de Deus. Numa imagem dos dias de hoje para compreendermos o fogo do inferno é como uma depressão profunda eterna, uma solidão sem fim, uma melancolia sem cura, um trágico fracasso da existência humana.

Tudo isto busquei dos textos sobre escatologia de Dom Henrique Soares da Costa, Bispo auxiliar de Aracaju. E deles, tentarei ilustrar o que devemos entender por purgatório, tema maior deste meu texto e que é motivo de muitas dúvidas e de entendimento equivocado.

Na certa, nossa alma não fica dormindo após a morte. Ela fica, mesmo antes da ressurreição final, no corpo de Cristo ressuscitado, que é a Igreja celeste, na comunhão do amor, incorporados plenamente em Cristo Jesus, incorporação iniciada no Batismo. Mas isto é outro tema, falaremos do estado purgatório, na entrada na vida eterna com a nossa morte, já que puros para ver a Deus dificilmente nós todos seremos.

Embora nos irmãos protestantes nos critiquem quando falamos em purgatório, ele é percebido nas escrituras sagradas e na Tradição da Igreja. Não existe esta palavra na bíblia, mas passagens nos levam a crer na sua necessidade. No Antigo Testamento aparece uma constante convicção que somente uma absoluta pureza é digna de ser admitida à visão de Deus, nada de impuro pode estar diante dEle. No Novo Testamento existe a mesma convicção. Jesus afirma que os puros de coração verão a Deus e o Apocalipse diz que nada profano entrará na nova Jerusalém. Então, como vamos nos purificar? Quando cometemos pecados, na confissão somos perdoados, mas a pena fica. A consequência de nossas faltas permanece. E quanto mais fazemos esses pecados leves, mais fracos ficamos no vício. Assim, sempre teremos uma purificação a fazer para alcançarmos o reino de Deus. É aí que entre o estado purgatório, que precisa ser bem compreendido. Afinal, como devemos entender o purgatório? Pergunta em seu texto Dom Henrique. E ele magnificamente nos ensina dentro da nossa igreja católica:

“Vamos partir de uma belíssima imagem do Apocalipse, que descreve o Cristo ressuscitado: “Os olhos eram como chamas de fogo. Os pés, semelhantes ao bronze incandescente no forno, e a voz, como a voz de muitas águas” (Ap 1,14b-15 cf. Dn 10,6).

            Morrer é partir para estar com Cristo, para encontrar aquele que “tem os olhos de fogo”, quer dizer, que nos vê como somos. No nosso encontro com ele, este fogo do seu olhar amoroso, fogo que é o próprio Espírito Santo, nos purificará: tudo aquilo que em nós foi “poeira do caminho”, aquelas pequenas coisas que ainda nos atrapalhavam e impediam que fôssemos totalmente livres, serão “queimadas”, purificadas no abraço final que Cristo nos dará! Então, compreendamos bem: o purgatório não é um lugar, nem está entre o céu e o inferno! O purgatório é a purificação que recebemos logo após a nossa morte, quando o abraço amoroso de Cristo nos envolve no fogo do seu amor! A gente passa pelo purgatório logo após a morte, caso ainda tenhamos aqueles apegozinhos, aquelas escravidõezinhas, aqueles pecadinhos de estimação.... Cristo completará em nós a obra começada. Mas, atenção: não é que a gente vai se converter depois da morte! Nada disso! Com a morte acaba nossa possibilidade de escolha: o purgatório é para quem escolheu o Cristo, viveu com ele, mas ainda tinha as pequenas incoerências de cada dia! Quem escolheu viver longe de Cristo não experimenta o purgatório, mas, ao contrário, viverá para sempre na contradição. 

            E as famosas penas do purgatório? Tratam-se simplesmente da dor, do sofrimento por ver que não amamos o bastante o Senhor. Quem é amado e descobre que não correspondeu a este amor como devia, sofre! Assim, o sofrimento do purgatório não é algo que Deus nos impõe, mas algo que vem da nossa própria imperfeição, da dor de não ter amado o bastante.

            E para que rezar pelos mortos que passam por este estágio purgatório? Já vimos que a Bíblia atesta a oração pelos mortos: trata-se de uma expressão belíssima da solidariedade dos membros do Corpo de Cristo: os mortos não cumprem seu destino de modo solitário, mas inseridos no Corpo do Senhor. A Igreja da terra está unida à Igreja que se purifica: o amor de Cristo nos uniu! Inseridos no Corpo de Cristo pelo Batismo, jamais estamos isolados, jamais estamos sozinhos! Mais ainda: neles, a Igreja mesma se purifica para ser Igreja glorificada!

            Uma última questão: se o purgatório acontece imediatamente após a morte e ninguém “fica” no purgatório, mas “passa” logo e pronto, para quê, então, rezar pelos mortos? É que para Deus não há tempo; tudo para ele é presente: a oração que fazemos hoje serve para um irmão nosso que já morreu há cem anos!

            Assim, rezemos pelos nossos mortos. Às vezes a gente escuta dizer na missa: “pelas almas do purgatório...” O que significa isso? Simplesmente: “pelos nossos irmãos que se purificam...” Rezamos para que sintam nossa solidariedade, já que a Igreja é a comunhão dos santos (=dos batizados), todos unidos no Corpo de Cristo ressuscitado.

            É muito errado fantasiar o purgatório, pensando que é um lugar, ou que lá se está sofrendo castigos, ou que alguém fique lá por uns tempos... Na outra vida não há tempo como aqui, nesta vida! Cuidado com as afirmações tolas e infantis!

            Uma coisa é certa: somente purificados de nossas incoerências poderemos estar com Aquele que é a Verdade. Se não arrancarmos nossos pecadinhos de estimação aqui, o Senhor vai arrancá-los no momento de nosso encontro com ele! E que dor saber que não fomos generosos o bastante! É isto - e só isto - que a Igreja quer dizer quando fala em purgatório!”

Napoleão

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