segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Neste domingo, ouvimos a proclamação da Parábola dos Talentos no Evangelho (Mt 25, 14-30). Ela encerra uma mensagem muito importante para todos, principalmente nós cristãos.
Na verdade, quando Jesus se referiu aos talentos, Ele falou da unidade monetária grega usada na época. Muitos entendem que Ele estaria se referindo às habilidades de cada pessoa. Mas não foi, os servos da parábola foram agraciados com uma quantia em peso de ouro ou prata equivalente a 6.000 dracmas. Portanto, a parábola não se refere automaticamente aos nossos dotes, talentos naturais. Refere-se ao patrimônio do patrão confiado aos servos.
Na parábola de São Mateus, os talentos são o patrimônio do Evangelho, a riqueza que o Senhor deixou para seus discípulos, levando em conta que há pessoas que tem mais capacidades e outras menos, mas todas têm: “deu a cada qual de acordo com a sua capacidade”. Assim, significava na parábola as responsabilidades e os deveres para com esse patrimônio que nos são confiados e em torno dos quais gira a nossa vida. Por exemplo, quais as responsabilidades de um pai de família, uma mãe de família, um padre, um agente de pastoral, um missionário, um governante, um médico. Há responsabilidades grandes e pequenas. Deus nos confia vários talentos, ele nos entrega a vida não como um peso nem como um castigo, mas como um dom, uma graça, uma bênção e uma grande oportunidade para nós e para os outros.
A atenção cai sobre o modo como este patrimônio é utilizado. Estes talentos que Deus nos dá significam a nossa responsabilidade como cristãos. Sermos testemunhas do Evangelho, vivermos esse Evangelho com garra dentro da realidade da nossa vida diária. Entretanto, muitas pessoas hoje convivem com o problema de uma sociedade que exige tanto que elas se sentem inúteis, inadequadas e incapacitadas. Deus nos conhece profundamente e não nos dá tarefas que não possamos realizá-las. Por isso, devemos ter uma estima sadia de nós mesmos antes de tudo porque existimos e somos fruto de um amor que quer que olhemos a vida como o nosso maior empreendimento.
Deste modo, vemos que o Evangelho deste domingo é muito claro: Jesus quer chamar a nossa atenção para o terceiro servo. Mas vamos falar também um pouco dos dois primeiros. No geral, a parábola nos mostra que somos dependentes de Deus e que somos obrigados a prestar-lhe contas; tudo o que temos é um bem que nos foi confiado, que não podemos usá-lo do jeito que bem entendermos, mas que devemos empregá-lo da maneira como Deus quer que o usemos. Através do comportamento e do destino dos dois servos bons e fiéis que empregaram, investiram, duplicaram, Jesus nos faz ver como devemos lidar com a nossa situação atual.
Entretanto, através do comportamento e do destino do servo mau que enterrou o talento conservado, mas não o fez crescer, podemos dizer que já é algo não ter perdido, mas não lhe serviu para nada. Jesus nos esclarece como uma pessoa com estas características vai acabar. Isso deve nos convencer a se afastar de um comportamento semelhante.
Também é importante ver como o texto diz: “depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar as contas com os empregados”. Aqui trata-se claramente da demora da parusia, da vinda do Senhor, onde o prêmio será entrar na alegria do Senhor. Se tivermos a atitude do servo mau, é como se disséssemos a Deus: Senhor, me deste o Evangelho, a fé, a Igreja, os sacramentos, tantos dons, graças. Eu te restituo, não me serviram para nada. Vivi como se não os tivesse. Isto é literalmente encontrar-se na escuridão, nas trevas do mundo, onde se chora e se range os dentes de remorso por não ter aproveitado o presente que Deus nos deu. É a falta de fecundidade evangélica.
A este servo mau se opõe também claramente a sabedoria do livro dos Provérbios (I leitura), mostrando a figura admirável da mulher forte. Uma mãe de família é habilidosa e generosa. Trabalha e se empenha em tudo o que faz sem se deixar levar pela beleza externa (passageira). À luz do Evangelho podemos dizer que a ela Deus confiou o talento da vida familiar. Um talento que tantos consideram pequeno, dona do lar, mas que na verdade todos sabem que é um talento enorme.
No Sl 127, encontramos a beleza de uma família. Feliz é o homem que teme o Senhor, o servo fiel frutifica o patrimônio de graça, a esposa é uma videira bem fecunda e os filhos são rebentos de oliveira. Na II leitura, coloca-se novamente o problema escatológico. Não devemos especular sobre o tempo e o momento, ele virá de surpresa, o que importa é que estejamos prontos. Não somos filhos das trevas, estamos acordados e sóbrios, prontos para acolher o Senhor quando vier.
Tudo o que Deus nos confia nesta vida não pode ser enterrado nem desperdiçado. Os nossos “talentos” devem ser investidos em favor de todos, não só de nós mesmos. E temos que enfrentar os riscos, pois seja lá o que fizermos, sempre haverá seus riscos e provações. Mas se não nos arriscarmos, não avançaremos nem cresceremos nunca na vida, ficaríamos como o terceiro servo.
O coração da parábola e a chave que poderia desbloquear a situação do terceiro empregado é justamente a relação entre ele e o patrão, entre cada um de nós e Deus. Enquanto os dois primeiros servos se sentiram estimulados para agir e não tiveram medo do patrão porque o conheciam e confiavam nele, o terceiro permaneceu condicionado somente pelo medo e ficou paralisado. Ele tem uma relação falsa com o seu patrão, uma imagem errada de um Deus como um juiz duro e implacável. Teve medo de perder o talento, de ser julgado e condenado por isso. E assim não quis sujar suas mãos, teve medo de errar, de se arriscar, ficou preguiçoso, acomodado, fechou-se.
Mas o amor tem a capacidade de mover a vida, e o amor de Deus pode nos levantar para assumirmos a responsabilidade de uma vida sem fugas e sem temores, com coragem, paixão e iniciativa. A consciência de que Deus no final nos pedirá contas dos frutos da nossa vida não deve nos encher de medo, mas pode ser uma justa provocação para não nos acomodarmos e podermos participar da Sua alegria.
Mas uma névoa povoa a mente, por mais que a fé nos preencha o coração. Então, gostaria que me respondessem uma reflexão: Como entender a frase: “Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas, daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado”? Utilizem meu e-mail:
napfigueiredo@yahoo.com.br Em especial, seria ótimo uma opinião do nosso diretor espiritual do ECC, Padre Bruno, e nosso pároco, Padre Marquinho.
Napoleão

4 comentários:

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  3. Caro amigo Napoleão
    Estive pesquisando na liturgia diária da Canção Nova e encontrei isso sobre a Parábola dos Talentos:
    "Certamente somos nós hoje os empregados desse patrão, que é Jesus. Estamos como semeadores na seara do Senhor. O que devemos fazer com os talentos que Jesus nos deu e continua nos dando?
    Que saibamos ser fiéis no cuidado e na administração dos talentos que Jesus Cristo nos concedeu, não permitindo enterrá-los, seja por insolência, por comodismo, pela busca de prazeres efêmeros ou mesmo por medo da seara não ser suficientemente frutífera como esperávamos. Confiemos no Senhor, sejamos perseverantes e abundantes na fé.
    Por inúmeras vezes as moedas de ouro estão, ou já estiveram em nossa mãos."
    ( Professora Nancy - Canção Nova ).
    " Acho então que devemos multiplicar os talentos a nós confiados (Palavra de Deus).
    Assim, quanto mais partilharmos, mais nos será dado."
    Abração
    Cidinha Serrano.

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  4. Caro Napoleão, há de se ter muita prudência ao interpretar trechos isolados das Sagradas Escrituras para não cair no fundamentalismo protestante. A Bíblia sempre deve ser interpretada num todo, num contexto único. E sempre esta interpretação deve pertencer à Igreja (Sagrado Magistério). Nós leigos não podemos interpretar como se fossemos iluminados. Podemos sim e devemos ler a Palavra, mas sempre a entender de acordo, em comunhão com o que ensina o Magistério e a Tradição. Senão cometeremos o mesmo erro dos protestantes que a interpretam a seu bel prazer.

    Após esta introdução, posto o comentário do Padre Manuel de Tuya, OP:
    1.O senhor que volta, julga, dá prêmios e castigos é Jesus Cristo, Juiz do mundo, em sua parusia.

    2. O prêmio de “entrar no gozo de teu senhor” é o prêmio da felicidade eterna, cuja descrição alude ao gozo de participar no banquete messiânico celestial (Mt 8, 12. 13; 22, 8-10; Lc 22, 30), forma com que se expressava frequentemente a felicidade messiânica.

    3. O rendimento máximo, em sua apreciação literária, dos talentos confiados aos dois primeiros servos, indica a obrigação de desenvolver os dons de Deus (1 Cor 15, 10) e o mérito dos mesmos, como se vê pelo elogio e prêmio que dá aos dois primeiros servos. No reino de Cristo, as ações têm verdadeiro mérito, que Deus premia e cuja omissão castiga. A “fé sem obras” é condenada nesta parábola de Jesus Cristo.

    4. A inatividade de não render com os dons de Deus é culpa: pecado de omissão.

    5. Todos esses dons aparecem sempre como dons de Deus.

    6. O fato de mandar acrescentar este talento ao que tinha dez, é o mesmo que a frase “porque ao que tem se lhe dará em abundância; porém, ao que não tem, ainda o que tem lhe será tirado”.

    7. O lançar esse “servo inútil” às “trevas exteriores, ali haverá pranto e ranger de dentes” é, nesse contexto, o castigo do inferno e fórmula dos evangelhos.

    Espero seja útil à sua reflexão.

    Abraço.

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