Eu vi as Cataratas do Iguaçu. Suas quedas d’água tombavam na imensidão, inundando o ambiente. Impetuosas, iam de encontro ao chão e os respingos molhavam-me o rosto. Cheguei mais perto. O barulho ensurdecedor das águas abundantes chocando-se nas rochas pareciam zumbir nos ouvidos. Os respingos se tornaram muito fortes e começaram a encharcar as roupas. O verde das plantas ao redor, sempre viçosas, contrastavam com a cor das águas que caíam sem medo. Caminhei displicente, mas sem perder de vista o espetáculo grandioso. O som do Iguaçu inundava o meu ser. Pude perceber uma certa harmonia tensa e grave. Não captei a melodia que soava por lá. Talvez seja como falar em línguas em que apenas os anjos entendem. A canção que meus ouvidos captaram falavam ao coração. Diante da beleza da paisagem tudo se calava e se curvava sob a maravilha de suas águas.
As cataratas são realmente uma expressão máxima de fonte de vida. Cada salto d’água é um reflexo fiel de que sempre é possível uma vida nova. É o milagre da natureza em movimento, majestosa, formidável. Nas Cataratas do Iguaçu, o mundo dá saltos de alegria, mostra um espetáculo inarrável, refletindo a grandeza e o poder de Deus.
Foi uma viagem inesquecível. Eu, Cleusa, minha esposa, minha filha Tatiana, minha netinha Rafaela, meu genro Ramon, todos, maravilhados, vimos o rio Iguaçu chorar e deixar jorrar suas lágrimas poderosas na imensidão dos vales. Um real espetáculo entre o Brasil e a Argentina. Uma prova incontestável da existência do nosso Criador.
Napoleão
Faço minhas as palavras da reflexão que o padre Tomaz Hughes, residente em Curitiba, PR, fez a respeito do Evangelho do São João, quando o evangelista nos diz que Jesus veio para todos tenham vida plena. Na segunda parte do evangelho de São João, 10, 7-10, “Jesus disse então: “Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”, o texto usa as metáforas da porta e do bom pastor. Jesus é a porta do aprisco, e também o bom pastor. João quer insistir que Jesus é a única fonte de salvação. Os que vieram antes dele, provavelmente uma referência aos mestres judaicos e às suas tradições, são rejeitados. É Jesus que veio para que todos tivessem a vida plena.
Aqui é necessário insistir que a missão de Jesus era trazer a vida para todos – não para alguns – e a vida plena, não uma suposta “vida espiritual”. Vida plena, em abundância, exige tanto os bens materiais necessários para uma vida digna, como os bens espirituais. Assim, o seguimento do Bom Pastor, nos coloca em choque com a sociedade vigente que restringe a vida plena a alguns privilegiados, enquanto exclui a maioria da humanidade. O texto impede que nós nos refugiemos numa interpretação espiritualista, oferecendo uma vida plena após a morte, pois o Reino de Deus que Jesus anuncia já está no meio de nós (cf Mc 1, 14-15), mesmo que a sua realização plena só acontece no além. O v. 11 nos manifesta o preço a ser pago por ser bom pastor! Jesus afirma que "o bom pastor se despoja da própria vida por suas ovelhas” (v.11). Enquanto o mercenário sacrifica as suas ovelhas ao seu interesse, o bom pastor entrega a sua vida até a morte para que os outros vivam.
As imagens do texto são por demais conhecidas. Todos conhecemos cartazes mostrando Jesus como o Bom Pastor. Cumpre assumir a continuidade da sua missão, entregando a nossa vida na luta diária para a criação de uma sociedade mais justa e humana – portanto divina – pois só assim seremos fiéis a aquele que veio “para que todos tenham a vida e a tenham em abundância”.Napoleão
VOCÊ ACREDITA EM DEUS? Com esta pergunta a jornalista encerrava uma longa entrevista com um esportista nacional famoso, cujo nome não vem ao caso. E a revista Brasil Cristão de setembro trouxe um artigo de Dom Murilo S. R. Krieger, scj, arcebispo de Salvador, a respeito do assunto. A resposta dada pelo esportista chamou-lhe a atenção e suscitou o texto que a revista publicou e que achei oportuno publicar em meu blog. Principalmente para uns amigos meus que se dizem ateus, mas não me fizeram perder a esperança de trazê-los à razão. Afinal, a gente sempre quer o melhor para todos que queremos bem, que amamos.
A resposta do esportista expressa o que muitos pensam a respeito do problema do mal e a existência de Deus. Na verdade, o drama e a angústia do entrevistado refletem o drama e a angústia de muitas pessoas nas diversas situações da vida. Nós mesmos nos indagamos, enchemo-nos de dúvidas diante de catástrofes e acontecimentos ruins que assolam o mundo e que têm ocorrido em diferentes épocas da história. O esportista disse: “É difícil dizer que acredito em Deus. Quanto mais desgraças vejo na vida, menos acredito em Deus. É uma confusão na minha cabeça; não encontro explicação para o que acontece. Por que é que meu filho nasce em berço de ouro, enquanto outro, infeliz, nasce para sofrer, morrer de doença, e há tudo isso de triste que a gente vê na vida? É uma coisa que não entendo e, como não tenho explicação, é difícil de acreditar em um Ser Superior.”
Em seu artigo, Dom Murilo procura explicar tais acontecimentos que nos apavoram e nos enchem de dúvidas se não nos prepararmos devidamente e deixarmos a fagulha divina de que somos feitos aflorar em nosso íntimo e se tornar luz de fato.
Ele enfatiza que o sofrimento e a doença fazem parte do nosso dia-a-dia. As injustiças, a fome e a dor são freqüentes no mundo, que até parecem normais e obrigatórias. Mas para um cristão, mais do que um culpado, o mal tem uma causa: a liberdade que nos foi dada pelo Criador quando nos fez. Fomos criados livres, com a possibilidade de escolher nossos caminhos. Podemos, pois, fazer tanto o bem quanto o mal. Se não tivéssemos inteligência e vontade, não existiria o mal no mundo. Se fôssemos meros robôs, também não, diz o arcebispo. É preciso ainda se conscientizar que se não tivéssemos liberdade não haveria o bem e nem saberíamos o que é um gesto de amor, o que é gratidão, amizade, solidariedade, lealdade.
Não fomos criados para sermos como autômatos, com destino já traçado, sem escolha. Neste caso, o que adiantaria sermos como a Madre Teresa de Calcutá ou um bandido da pior espécie? A vida seria inútil, sem sentido.
O mal nasce do abuso da liberdade ou da falta de amor. Como diz o arcebispo, ele às vezes é feito inconscientemente, involuntariamente, por imprudência, como quando um motorista abusa da velocidade ou embriagado causa um acidente fatal, matando pessoas inocentes. Não é da vontade de Deus que isto aconteça, diz Dom Murilo, mas Ele não vai corrigir ou impedir cada erro ou descuido humano. Ele não vai impedir que o gás esquecido ligado possa asfixiar um idoso que ali dorme. Ele não tolhe a nossa liberdade. Nós criamos nossos caminhos, nossas desgraças, nossas alegrias, nossa felicidade. Deus não intervém a todo momento, para modificar as leis da natureza ou para corrigir erros humanos. Ele não vai corrigir as tragédias causadas por tsunamis ou outro fenômeno que o egoísmo do homem construiu no planeta, aos destruir florestas, devastar áreas ambientais. Culpa de Deus?
A violência causada pelo ódio, pelo egoísmo, os assassinatos, roubos, os seqüestros, acidentes, guerras e outras maldades são como pegadas da passagem do homem pelo mundo. O mal acontece porque usamos de forma errada nossa liberdade ou não aceitamos o plano de Deus, expresso nos mandamentos, enfatiza o arcebispo. Quando enveredamos pelos caminhos indevidos, construímos o nosso mundo, não o mundo desejado por Deus para nós. Ainda mais, quantos se aproveitam do poder para se enriquecer às custas dos pobres, da miséria dos fracos e de seu sofrimento, fechando-se em seu próprio mundo para assistir a desgraça dos outros.
Ainda nos aconselha Dom Murilo, diante do mal, não podemos ter uma atitude de mera resignação. Cristo nos ensinou a lutar, combatendo o mal em suas causas. O bom uso da liberdade e a prática do bem nos ajudarão a construir o mundo que o Pai sonhou para nós. Descobriremos, então, que somos muito mais responsáveis por nossos atos do que imaginamos. Fugir dessa responsabilidade, procurando fora de nós a culpa de nossos erros, é uma atitude cômoda, mas ineficiente e incoerente. Assumirmos a própria história, colocando nossa capacidade, usando nossos dons, a serviço dos outros, é uma tarefa exigente, sim, mas que nos dignifica e nos realiza como seres humanos e filhos de Deus.
Deus existe sim, de outra forma a vida não teria o menor sentido. Basta um pouco de sensibilidade e o veremos. Negar a existência do Ser Supremo parece-me estar cego para as coisas que nos rodeiam. É olhar sem ver, tatear sem sentir, engolir sem degustar.
Vejo Deus em cada amanhecer ao despertar quando abro os olhos e sinto o bater do meu coração. Vejo-O na luz que nos ilumina; no sol que nos aquece; nas chuvas que molham a terra, tornando-a fértil; nas matas que renovam o ar que respiramos; na beleza das paisagens espalhadas pelo universo. Vejo Sua ternura no perfume das flores e Sua justiça nos espinhos que a protegem. Vejo Sua bondade no brilho das manhãs que conduz a vida e seu alerta nas trevas das noites de tempestade, nas ondas bravias de um mar revolto. Vejo Sua misericórdia na alegria das pessoas que superam uma enfermidade, Sua simplicidade no cantar de um pássaro, no vôo rasante de um beija-flor. Vejo Sua magnitude nas quedas d’água das cachoeiras imensas, na grandeza dos oceanos que se entremeiam pela terra. Vejo Sua beleza em cada nascer e pôr do sol, em cada gesto de uma criança inocente, em cada estrela que povoa o firmamento, em cada flor que desabrocha nos jardins, no vento que sopra e não vemos. Vejo Sua imagem na inteligência de cada ser humano, nas grandes descobertas, na complexidade de cada ser vivo. Vejo Sua eternidade no infinito que não alcançamos, no mistério que envolve as galáxias. Vejo Seu amor em cada coração que pulsa, em cada gesto de carinho.
Parece-me tão óbvio: tudo revela e manifesta Sua existência. Tudo que vive e respira, tudo que canta e celebra a beleza, o amor, a perfeição é Deus que Se nos mostra. Ele está em cada um de nós, habita nosso templo vivo, lugar sagrado, o santuário onde achamos a centelha divina. Entretanto, Ele não está na maldade que o ser humano cultiva e propaga com sua liberdade mal usada, mas que podemos combater com o bom combate, como nos diz a bíblia em 2 Timóteo 4, 7.
Napoleão
No Brasil, o mês de setembro é o “mês da Bíblia”. É muito bom lembrar quanto é importante a Sagrada Escritura em nossas vidas, pois é a Palavra viva de Deus, que contêm muitas lições importantes para nossa vida diária. Vamos então neste mês, destacar alguns textos bíblicos de grande valia para nós.
Comecemos pelos textos deste domingo, 4 de setembro. Lemos na carta de São Paulo aos Romanos que “O amor é o cumprimento perfeito da Lei.” Isso ecoa as palavras do Senhor que disse que toda a lei e os profetas podem-se resumir nos mandamentos de amar Deus e nossos irmãos.
Embora possa parecer fácil, não é. Quando uma pessoa faz algo danoso a ela ou a outras pessoas, ou é ofensiva a Deus, o amor autêntico deve fazer que procuremos ajudar aquela pessoa a reformar sua conduta por seu próprio bem e pelo bem da comunidade. A caridade e a justiça exigem que procuremos minimizar o dano físico e espiritual que pode resultar do seu comportamento. Este dever tradicionalmente se chama “correção fraterna”, e é descrito tanto na primeira leitura como no Evangelho. Na primeira leitura, Deus dá esta tarefa explicitamente ao profeta Ezequiel. Ele foi enviado por Deus a proclamar a verdade e a guiar o povo de Israel, assim que se ele não fizera o esforço de protegê-los instruindo-os a evitar o pecado. Deus iria pedir-lhe contas das pessoas que se desviaram. No Evangelho de Mateus, Jesus está falando particularmente a seus discípulos mais íntimos, os que são seus primeiros apóstolos e missionários.
Cada um de nós é pecador, e todos precisamos de ajuda às vezes para ficar no caminho justo. É nosso dever praticar a correção fraterna, com humildade, porque, de outra forma, Deus nos pedirá conta por nossa omissão. Somos chamados a ser como os salva-vidas na praia da vida, procurando avisar as pessoas para não topar com pedras escondidas na água e para desviarem das regiões perigosas onde as correntes podem prender as pessoas e afogá-las. Quando for necessário, mergulhamos na água com a fé e os sacramentos como instrumentos de resgate, e procuramos trazer as pessoas de novo para as águas mais seguras.
Se sentimos que é nosso dever corrigir alguma pessoa, devemos fazê-lo com caridade e respeito. Sempre devemos ser motivados pelo amor, procurando a salvação de todos, e agradecendo se alguém nos ajuda a descobrir os nossos próprios pecados, pois eles nos terão ajudado a chegar ao céu. E especialmente durante este mês, mas também durante todo o ano, façamos um esforço particular para ler e estudar a Bíblia, que nos ensina como Deus nos ama e como nós devemos amar Deus e nossos irmãos. “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm, 13, 10). Napoleão